domingo, 22 de dezembro de 2019

"The Fortunes and Misfortunes of Moll Flanders"- Daniel Defoe apresenta uma mulher a frente do seu tempo.

Daniel Defoe, o criador de "Robinson Crusoe", deu-nos a conhecer "Moll Flanders" (livro escrito em 1722), mulher que chocou o Reino Unido no século XVIII e que foi levada ao ecrã, em 1996 (ano em que a televisão mundial transmitia produções como "Friends", "ER" ou "Sai de Baixo"), por Alex Kingston e Daniel Craig. Os dois então desconhecidos actores viveram durante 4 episódios (um total de 4 horas) os protagonistas desta produção.
"The Fortunes and Misfortunes of Moll Flanders" acompanha as aventuras de Moll (Alex Kingston), uma rapariga abandona a nascença pela mãe (que neste telefilme é interpretada por Nicole Kingston, irmã da actriz que se notabilizou em "ER" e "Doctor Who") e que foi criada por um grupo de ciganos. Certo dia, Moll consegue fugir e esbarra no Mayor de Colchester, que acaba por a adoptar. Os anos passam e Moll transforma-se numa bela, charmosa e feroz mulher que chama a atenção os dois filhos do político.
Moll destaca-se por algo que em Portugal chamamos de "esperteza de rua" e claramente não era uma mulher do século XVIII (algo que vemos bem neste filme).
Esta feminista a frente do seu tempo usa o corpo para conseguir aquilo que quer, dinheiro. Para conseguir uma posição de dominância na sociedade começou a coleccionar maridos e as suas respectivas fortunas. Entre os cinco casamentos de Moll, o primeiro foi com o filho da família que a recebeu em criança, aquele que me chamou mais a atenção foi o terceiro, com o qual estava feliz e já tinha dois filhos. É que ao melhor estilo dos "Maias" (se me pedissem para comparar esta história com outras, eu diria que é uma mistura entre o livro de Eça de Queiroz e "Os Crimes do Padre Amaro"), Moll descobre que está casada com o próprio irmão.
Numa cena muito bem-feita, e enquanto passeiam pelos campos da Virgínia, a sogra da protagonista começa a contar a história da sua própria vida e ao longo dos episódios apercebemos que os passos que a filha tomou são semelhantes aos da mãe (aliás, as duas acabaram presas na mesma cadeia). Nesta conversa, onde a sogra (Diana Rigg) conta que teve uma filha e que esta foi criada por um grupo de ciganos, Kingston mostra uma grande versatilidade ao falar directamente para a câmara e questionar como era possível ter corrido meio mundo para ir logo se casar com o próprio irmão. Ao longo desta produção a actriz consegue fazer-nos rir (basta ver a cena dela com o padre na prisão) e ficar emocionados (o que acontece quando admite que Jemmy, o marido número 4, é o seu verdadeiro amor) quase ao mesmo tempo.
Roubo, prostituição e corrupção são alguns dos crimes que Moll comete e o seu bando acaba a olhar para os maridos e concorrentes aos cargos como simples activos. Pode cometer crimes mas a verdade é que acabamos todos a torcer por ela.
Esta autêntica "mastermind" do crime acaba por ter alguém capaz de lhe fazer frente. A mulher que usa o corpo e brinca com os sentimentos dos homens com os quais se cruza acaba por provar do seu próprio veneno com Jemmy (Daniel Craig). O charmoso aventureiro casa-se com uma aparente viúva respeitável para conseguir reaver um estilo de vida que perdeu devido ao jogo e outros vícios.
A relação entre os dois não resultou, já que estamos a falar de um par de aproveitadores, e Moll passou para o marido seguinte mas a sua carreira criminosa acabou por a levar a tribunal a um julgamento que só podia ter um final, a morte! A carreira criminosa da mulher mais matreira do Reino Unido estava assim prestes a chegar ao fim.
Spoilers a parte, e com um livro e uma produção com mais de 20 anos acredito não necessitar de fazer muito mistério sobre este final, Moll consegue fugir, isto sem antes fazer chantagem com o juiz que a estava a julgar, e parte para a Virgínia com o seu grande amor, Jemmy. Os dois belos, jovens e com caras felizes são vistos numa nau a zarparem em direcção ao novo mundo. Este é o final feliz que Daniel Defoe nos dá.

De: Andreia Rodrigues.

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