domingo, 6 de janeiro de 2019

"A senhora lá de casa" e as polémicas de Judite de Sousa.

Judite de Sousa lançou um novo livro. Nesta nova obra, a jornalista da TVI aborda a sua experiência como correspondente no Brasil durante as últimas eleições. Até aqui nada de chocante. Quer dizer, acho que foi algo rápida a escrever este livro mas o problema não está no conteúdo do mesmo mas sim numa simples fotografia.
É que durante a apresentação desta obra, a jornalista decidiu tirar uma foto com algumas pessoas e publica-la online. Na legenda desta foto referiu-se a uma das senhoras presentes na mesma, uma senhora de cor, como "a senhora lá de casa". Com esta pequena referência toda a gente entendeu que aquela senhora e na realidade a senhora das limpezas e a comunidade online, mais uma vez, entrou em "combustão". Judite de Sousa já colecionou algumas polémicas sendo esta apenas a última.
Só que esta história fez-me pensar que ainda vemos as pessoas que trabalham nas limpezas como cidadãos de segunda categoria. Podemos mudar de nome mas a função é mesma e ainda é vista como uma profissão realizada por "cidadãos de segunda" e por emigrantes, pessoas de cor. Este pode ser um pensamento algo racista mas se forem ver, principalmente se apanharem um autocarro da Carris, em Lisboa, bem cedo, metade do carro é composta por senhoras de Cabo Verde ou da Guiné que estão a voltar a casa depois de terem feito as limpezas em algum escritório de advogados ou faculdade.
Em relação à descrição utilizada por Judite de Sousa, acredito que ela errou pois podia ter posto qualquer coisa, como "uma amiga", por exemplo. Ela errou mas as pessoas na Net também estão algo erradas pois se ficaram escandalizados é porque na realidade ainda comungam um pouco da ideia da "senhora lá de casa", aquela senhora que nos limpa a casa sem nós darmos quase por ela. Funcionam quase como fadas. Fazem o trabalho sem serem vistas e há quem não acredita na existência das mesmas.
Posso vos dizer que sou filha de uma "senhora lá de casa", quer dizer, ela já não trabalha mas antes era empregada da limpeza, e seu mais ou menos sobre o pensamento de algumas das patroas que ainda acham que vivemos na altura da escravatura. Por 20€, acho que este era mais ou menos o valor mas já não me lembro muito bem, tens que em meia dúzia de horas limpar todas as divisões da casa e esta é uma missão quase impossível. E muitas das patroas não querem pagar horas extraordinárias ou colocar as empregadas na segurança social para poderem ter direito ao subsídio de desemprego.
Muita coisa mudou nos últimos anos mas acho que as empregadas da limpeza, ou como lhe queiram chamar, deveriam juntar-se num sindicato e lutar pelos seus direitos. Mas esta é apenas a minha opinião e sobre a qual vão poder pensar. Isto pelo menos enquanto a comunidade online continuar a falar sobre a legenda da fotografia da Judite de Sousa.

De: AR.

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