segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Alguma vez pensou comer insetos?

Para a cultura ocidental ainda é pouco estranho falar sobre insetos comestíveis mas a verdade é que estes trazem alguns benefícios para a saúde e podem ser a chave para a nossa alimentação do futuro. Com cada vez mais pessoas no mundo, há quem acredite que corremos o risco de não haver alimentos suficientes para todos. Mas os insetos podem ter um papel muito importante para esta situação.

Já pensou em comer muffins, bolachas, hambúrgueres ou pão feito de insetos (que já se encontram à venda na Finlândia)? Se não, pense outra vez. Isto porque os insetos, devido ao seu valor nutricional e à facilidade de produção, começam a ser vistos cada vez mais como parte da alimentação em inúmeras culturas do mundo. Estes podem ser consumidos transformados em outros produtos, moídos em farinha ou fritos, ou como se de batatas fritas se tratassem.
Os insetos, que podem ser vistos como um complemento aqueles que estão fartos de consumir carne, são bastante populares em inúmeros países orientais mas aos poucos começam a ganhar o seu espaço nas culturas ocidentais, e em parte acontece devido ao seu baixo custo de produção, ao contrário dos elevados custos, estes não são económicos mas também ambientais, que a produção pecuária traz.
Produzir insetos acarreta um menor uso de espaço ou uma menor libertação de gases com efeito de estufa.
Devido a tudo isto, já existem várias portuguesas (e não só) que estão a apostar na produção de insectos. Uma das empresas que está neste mercado é a Portugal Bugs. Esta empresa nasceu a partir de um projeto universitário na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Tudo começou com uma simples barra feita de farinha de inseto (que foi recentemente premiada) chegou ao mundo dos negócios e desde então esta empresa já desenvolveu inúmeros produtos alimentares à base de insetos e também tem havido uma aposta na criação dos mesmos.
«Ambos os fundadores têm formação em engenharia alimentar e estamos cientes que o aumento esperado para a população mundial, irá colocar o setor agro-alimentar que conhecemos atualmente sobre uma grande pressão, e essa pressão tornar-se-á insuportável caso não se encontrem alternativas proteicas mais sustentáveis. Desta forma acreditamos que os insetos vão desempenhar um papel importantíssimo, conseguindo fornecer à população, não só uma alternativa proteica rica em nutrientes e aminoácidos essenciais, mas também vão conseguir fazer com que consigamos produzir proteína de forma mais sustentável, não utilizando diretamente os nossos recursos hídricos, bem como sendo capazes de reduzir a necessidade de se utilizar grandes áreas de exploração para se criar proteína», como explica Guilherme Pereiras, da Portugal Bugs, sobre a aposta no mercado dos insetos, que está cada vez mais em expansão.
Já existem inúmeros produtos feitos com insetos (especialmente moídos) no mercado mas a maioria das pessoas ainda desconhece a existência deste tipo de alimentos.
Para os europeus pode ser estranho o consumo dos mesmos mas a verdade é que os europeus primitivos consumiam insetos. Este hábito foi perdido com os tempos e agora inúmeras empresas europeias pretendem recuperar esta tradição. E a re-implementação dos mesmos na alimentação europeia deverá ser feita através de patês, bolachas, massas, barras de proteínas ou bases de pizza.
Mas para os produtos feitos com insectos sejam comercializados, é necessário alterar a lei alimentar e alguns países, como a Suécia, estão a alterar as suas leis para poderem ter estes alimentos nas prateleiras do supermercado.
«De momento existe legislação que regula a colocação de insetos no mercado para alimentação humana, sendo necessário um enumero número de testes para que seja demonstrado que os insetos não apresentam qualquer risco para o consumidor», diz Guilherme Pereiras sobre a lei que regula empresas como a Portugal Bugs, que tem sede em Matosinhos.
O Reg. 2283/15 da União Europeia, que data de 2015, regula os alimentos e as empresas que trabalham nesta área. Um dos artigos deste regulamento permite novos alimentos ou práticas alimentares, desde que estas não coloquem em causa a saúde humana. Mas para cada um destes uma destas espécies necessita de um processo de avaliação que comprove que não são nocivos para a saúde humana. Só que este processo de autorização é moroso e pode não ser economicamente viável para as pequenas e médias empresas.
Os insetos têm um alto valor nutritivo e trazem ganhos para a sua saúde, pois são uma boa fonte de nutrientes, proteínas, vitaminas, fibras (como a quitina), minerais e gorduras saudáveis.
«Neste preciso momento, a Portugal Bugs já tem uma unidade piloto para a produção de Tenebrio molitor, e esperamos que até ao final do ano já consigamos ter a nossa produção bastante automatizada. Para 2019 esperamos que o mercado já se encontre aberto para os nossos produtos alimentares, fazendo com que seja possível aumentarmos a nossa produção a nível industrial, e conseguirmos ter uma unidade de produção para as nossas alternativas alimentares», conta Guilherme Pereiras.
Empresas como a Portugal Bugs, e não só, praticam uma economia circular e apresentam um selo de sustentabilidade, pois aproveitam recursos que de uma outra forma acabariam em aterros e não teriam qualquer tipo de utilidade.
Os insetos mais consumidos são: grilos, lagartas, cigarras, gafanhotos e as larvas de besouro.
A FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, alerta para que se encontrem substitutos plausíveis às proteínas animais e uma forma de agricultura mais sustentável.
O que os insetos lhe dão pode ser comparado às proteínas que encontramos no peixe e na carne. No que toca ao gosto, as larvas do bicho-da-farinha sabem a avelãs, os gafanhotos a frango e as formigas a citrinos.
«As principais vantagens deste novo alimento são o fato da sua produção contribuir de forma mais sustentável e económica para a obtenção energia, macronutrientes, como proteína de alto valor biológico e como ácidos gordos essenciais, e micronutrientes, como o ferro e o cobre, o que poderá contribuir para redução da fome ao nível mundial. Contudo, Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) emitiu, em 2015, um parecer que torna claro que é necessário haver mais estudos para a avaliação dos riscos associados ao consumo humano de insetos», conta Alexandra Bento, Bastonária da Ordem dos Nutricionistas, sobre as principais vantagens do consumo de insetos.
Por exemplo, comer grilos faz bem para os intestinos, pois contribui para uma alteração do microbioma humano e ajuda a reduzir as inflamações. Estes são alguns dos benefícios que a ingestão de insetos pode trazer e estão a fazer com que se olhe para estes alimentos com outros olhos.
Quem regularmente consome insetos não costuma relatar qualquer tipo de alterações gastrointestinais significativas ou efeitos colaterais deste consumo. No início pode ser algo estranho o pensamento de comer insetos mas é como costuma dizer o ditado popular: 'Primeiro estranha-se e depois entranha-se'.
«Nos últimos tempos tem aumentado o interesse mundial pela utilização de insetos na alimentação humana e animal. Apesar do consumo de insetos ser habitual em países do oriente, desde 2013 começou a aumentar o interesse pelos países do ocidente, aquando da publicação do relatório 'Insetos comestíveis: perspetivas futuras para a segurança da alimentação humana e da alimentação animal' da Food and Agriculture Organization. Este relatório destaca os insetos como uma boa alternativa às fontes tradicionais de proteína animal como resposta ao crescimento da população mundial e às questões da sustentabilidade ambiental», explica Alexandra Bento.
Sobre se aconselharia a ingestão de insetos, a Bastonária da Ordem dos Nutricionistas diz que «Esclareceria que este é um assunto em discussão na atualidade, quer no âmbito dos benefícios nutricionais quer em relação à segurança alimentar do seu consumo, pelo que serão necessários mais estudos e a posterior produção de legislação para um consumo seguro». Reforça também que são necessários mais estudos para avaliar possíveis riscos biológicos e químicos para a saúde humana.
Para além de poderem ser utilizados no fabrico de alimentos para o consumo humano, os insetos podem ser utilizados como fertilizantes para solos que são capazes de produzir milho, batatas ou tomates.

De: Andreia Filipa Rodrigues. (Publicado em "Mood Magazine").

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